Eu me sinto vazia.
Vazia, não. Esvaziada. Esvaziada de tudo que é doce e
bonito, exaurida de tudo que é vivo e alegre, desprovida de todas as cores,
monótona e preto e branco. Há pouco, a luz me fazia enxergar minhas penas
negras, escuras como a noite—tão escuras que acabavam despontando num matiz
azulado, na clareza do dia, no vislumbre queimado do turquesa do crepúsculo.
Agora, elas voltaram a ser o produto esturricado de minhas aventuras
ensolaradas, como se mais uma vez eu me visse incapaz de caminhar fora das
sombras. Não brilham em absoluto, e não se transmutam nas brumas morosas da
manhã. São carvão despedaçado, cinza perdida em meio ao cinza. Meu mundo
monocromático de vazio e trevas padeceu sob meus pés novamente, puxando minhas
asas pesadas.
Eu não sei voar. Eu voei tão alto, e não foi suficiente.
Sob este filtro sem cor ou ror, nós somos mais uma vez
parecidos. Estamos mergulhados na melancolia, encharcados até a cabeça deste
líquido pegajoso que nos puxa para baixo, que afoga nossas asas. Encobertos de
piche e trevas, ambos negros e insignificantes, obtusos e cegos. Quanto da
imensidão azul, a imensidão azul do horizonte e tua, quanto dela sobrou? Aqui,
tudo é pequeneza e negrume, e não há nada que ainda te sejas. Ah, pássaro azul,
pra onde tu voaste, já que não estás mais aqui? Não há ninguém ao meu lado, e
não há voz que me cante.
O silêncio me oprime. Eu não posso ouvir mais nada. A
ausência de som e a ausência de tudo me violam e matam, e não há ar para
respirar. Como eu poderia voar, se já não há o céu das manhãs, se não há espaço
para qualquer direção? Eu sempre estive perdida, porque nunca houve nada para
achar.
Eu me sinto vazia. A correnteza de trevas levou meus
sonhos e meus sorrisos, e também minhas asas. E eu só consigo aumenta-la,
afogando-me em minhas próprias lágrimas, escura e opaca e pequena, tão pequena
e só.
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