É lógico que eu sabia que pensar positivamente sobre isso não passava de um engano. E eu não costumo me enganar assim.
Mas é mais do que incontestável que a verdade é, sim, a que eu enxergo com meus olhos impiedosos; a verdade que dói, que causa maus sentimentos e que, mais que tudo, permanece. A verdade que outros olhos amados não vêem; a verdade que não é secretamente doce, mas notavelmente amarga. Não usaria de eufemismos ou delicadezas para explorar tal realidade. Não usaria de falsas certezas ou consciências benignas para restaurar a afeição que já morre. Sei muito bem reconhecer a efemeridade das coisas e a imutabilidade da morte. E sei muito bem diferir um sentimento moribundo de um cadáver inerte, preso em ataúde selado a ferro e fogo.
Portanto, caro amado, não me digas que tu sabes de verdade o que sentem por mim. Não me digas que tu sentes que há verdade alguma nisso. São corpos já há muito enterrados, e para suas chagas não há esperança. Deixe que eu cuide de meu cemitério de sentimentos esvaídos, de minha mortalha de flores murchas.
E uma coisa esperem de mim, meus finados: não me verão cabisbaixa a rastejar por teus passos; não me verão semi-morta a pedir por teus beijos; não me verão deplorável a suplicar por teus encantos. Aquele que a mim diz ‘adeus’ de partida está. E a este eu deixo seu futuro, e o meu a mim.