Morte. Eu já havia escrito tanto sobre ela. Era realmente curioso que eu jamais a houvesse sentido.
Há dois tipos de morte. Há o tipo figurado, metafórico, irreal, espiritual. Extremamente poético, esse tipo de morte sempre esteve em meus contos. Eu não precisava sentir a verdadeira para saber descrevê-la—essa morte etérea, simbólica, literariamente ideal numa dimensão imaginária. Eu só precisava apurar. Apurar meus sentidos, minha empatia e meus sentimentos: apenas isso era necessário, e ainda assim poucos o conseguiam. Não me sinto inclinada a escrever mais sobre isso. Está em todos os meus textos e imaginações, e não há nada de novo para explorar por enquanto. O primeiro tipo de morte sempre foi muito claro.
Mas há o segundo tipo. A morte orgânica, factual, legítima e atestada. A morte irreversível, silenciosa e vazia do mundo físico.
Eu já havia ouvido falar que me sentiria assim. Dormente. Estranhamente concentrada. Até mesmo produtiva. E muitos poderiam dizer que isso só está acontecendo porque quem, ou o que morreu, na visão deles, não era mesmo muito importante. Talvez realmente exista uma diferença, mas ela não é tão grande assim. De qualquer modo, ela está aqui—a morte física, factual e eterna—e eu jamais poderia imaginá-la tão quieta.
A minha primeira, a minha quase única impressão sobre o segundo tipo de morte é o silêncio. Faz muito sentido, contando com o fato de que eu aguardei no silêncio até que declarassem que o que estava ali, do meu lado, era a morte factual, enquanto todos que estavam presentes soubessem antes, e provavelmente com muito mais barulho. Mas não consigo separar uma coisa da outra. A morte é autossuficiente—ela chega e acaba, mas nunca termina. Diz-se que alguém “morreu” e não há mais qualquer coisa para replicar, nem providências a tomar. A morte é tão solitária que mal percebemos que ela precisa constantemente buscar companhia. E não suportamos que ela leve um de nós, e estamos tão pouco preparados para isso, que não temos qualquer tipo de reação adequada quando acontece. Eu estou teclando tranquilamente e um corpo não anda mais aqui, não mais me afaga com suas patas peludas, e nem nunca mais fará. A morte é tão estranha que parece enganar-me, fazendo com que eu não a odeie—apenas odeie o fato de que ele não vai mais voltar pra casa.