sábado, 30 de abril de 2011

"Mas rir de tudo é desespero..."

            A minha breve e regular passagem pela juventude da era da informação me leva, diariamente, a reflexões no mínimo estranhas, considerando-se que eu, também, faço parte desta juventude. Não que esta participação não pudesse ser questionada, visto que minha contribuição ou semelhança comportamental não são exatamente muito altas. O que ocorre, de fato, desde o fim da minha infância e egresso na pré-idade adulta, é uma crescente dissociação emocional e isolamento natural da minha personalidade em relação aos outros viventes. Por mais que eu compartilhe de seus rituais de lazer e goste destes, há sempre uma linha fina, porém nada tênue, separando-me do ambiente em geral.
            Uma das coisas que mais me intriga nesse grupo social, ou melhor, nessa fase temporária (ou não) do crescimento humano é a necessidade—talvez somente atual—constante e até mesmo vital de felicidade. Passa-se horas em frente a uma tela de LCD onde vídeos intensamente apelativos e terrivelmente insignificantes são pesquisados e assistidos com o único objetivo de proporcionar ao espectador desocupado em questão uma seqüência de gargalhadas quase que ébrias. Nas rodas de conversa, socializa-se mais aquele que tem a bagagem mais vasta de tal tipo de entretenimento, e a indiferença a esses estímulos decreta a separação social de um indivíduo. Culto a personagens famosos também conta na montagem desse status igualmente popular. Nada mais interessante que ter como ídolo uma suposta celebridade que se veste de carne crua, ou um latino suficientemente atraente fazendo apologia à traição e à promiscuidade. Letras com a profundidade de uma tábua são copiadas e coladas em redes sociais, onde fotos e comunidades são escolhidas conforme a necessidade de exibição da felicidade latente do ser, e imagens jocosas são espalhadas pelo mundo com a função básica de fazer rir. O sexo é banalizado e estimulado, pois de sua variedade, vem também a quantidade, importante, de prazer. O sombrio é isolado e até mesmo a morte sofre a ridicularização.
            Na psicologia freudiana, o superego é responsável pelo controle dos desejos primitivos e violentos do id. Através do entorpecimento e mortificação dele, alcançados pelo consumo de drogas lícitas ou ilícitas, conforme a intensidade de suas aplicações, o superego é anulado e os instintos irracionais do homem são liberados. Numa sociedade que esbanja festa e diversão diariamente, o que há de mais triste para ser constatado é essa necessidade intensa de anulação da moral, da consciência; essa dificuldade aparente de suportar o próprio “juízo”, a própria razão e os próprios sentimentos. A realidade da qual tenta-se escapar com tanto empenho é também a realidade histórica onde ocorrem mais suicídios, maior índice de depressão e mais freqüente consumo de psicotrópicos.
            Mas talvez essa seja, de fato, a natureza humana se manifestando outra vez, como, no passado, esteve estampada até mesmo no livro mais famoso do mundo. Talvez esta necessidade humana de ignorar a realidade através da anulação da consciência seja mais natural do que eu imagino. Por mais parcial que seja a verdade, ou por mais simplória que seja a vida. Quando só se há felicidade, o que não está incluso nela será sempre rejeitado. Seja o conhecimento adquirido por Adão e Eva ao comer da macieira, ou a existência de sentimentos ruins e ocasiões tristes, ou a simples “não-obrigação” de encontrar-se feliz o tempo todo.