Quando eu era pequena, queria ser
astronauta. O que hoje parece um sonho infantil, daqueles que não merecem fé ou
atenção, faz total sentido para minha mente decididamente inapta às ciências e
aos cálculos. Desde pequena, eu queria sair do planeta. Desde pequena, eu
queria voar. Voar para mundos longínquos enquanto minha vista de fora enxergava
à minha própria terra com uma nitidez grande demais; enquanto meu corpo
planando na falta de gravidade jamais se encostava ao solo por mais que alguns
segundos; enquanto todo o universo e seus mistérios pareciam um lugar mais
confortável que a praticidade das coisas terrenas; enquanto eu ainda não tinha
que saber de nada em definitivo.
O que quer que eu fosse buscar um
dia, estaria longe. Fora da Terra. E acredito que estava certa, pois até hoje
não o encontrei. Tenho a impressão de ver uma faísca, uma espécie indizível de
rastro daquilo que procuro por vezes; tenho a impressão de ouvir uma nota de
minha própria essência nas canções mais distantes, naqueles ofícios que exigem
juventude e vocação; e pareço fita-lo turvamente entre as linhas que eu mesma
escrevo, derramado sobre a página como o sangue de algo que definha, mas nunca
morre. Seria mais fácil que meu quê invisível, minha missão secreta, passasse
de um moribundo incômodo a um defunto resignado. Seria mil vezes mais fácil
adaptar-me às engrenagens da Terra, arrumar-me num papel previsível, tomar um
rumo no que chamam enfaticamente de vida, enfiar meus pés no solo como os
adultos fazem, como os adultos devem fazer, e prefiro de verdade ser uma
adulta. Mas há algo que falta; há algo fora de lugar. Há algo distante demais,
algo que é meu. E meus pés flutuantes, levando-me a todos os cantos que posso
olhar, não conseguiram me levar até ele.
Não sou uma astronauta. Sou uma
escritora. Ou ao menos penso que sou, cega demais para encontrar a única coisa
que interessa. Mas não há futuro nisso por aqui. Para os que parecem ter
encontrado seus rumos na vida, o lado de fora não interessa. E meus pés ainda
não afundam sobre o solo.
Quando pequena queria sair da terra, alçar o espaço e isso foi preservado.
ResponderExcluirEu, quando criança, sonhava ser gari, não sei por que diabos era sedutor para mim andar pendurado em um caminhão fedorento, na minha inocência aquilo era um sonho, talvez como voar... Era um fato - os garis que passavam na minha rua sempre estavam esbanjando sorrisos.
No entanto, o que fizeram dos nossos astros e latas de lixo?
De que planeta você veio, Maria Luiza?
Queria curtir e mostrar esse texto ao mundo. Enfim, não tenho muito o que dizer, já que inegavelmente eu me redescobri nesse texto teu. O negócio, infelizmente, é se adaptar à praticidade e à urgência do nosso planeta enquanto, secretamente, a gente foge para outro de vez em quando ;)
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