Frio. Você acaba de ir e a única reminiscência de tal encontro é o frio. A única coisa que você deixou aqui, sobre a minha pele e meu espírito, além de resquícios de saliva e umas lágrimas guardadas, é o mais puro e inconsolável frio, a mais doce e incontrolável penúria a estreitar-se entre cada um de meus músculos. Dor. Você já provocou dores, dos mais diversos tipos; dores físicas, carnais, dores emocionais e até dores, ouso dizer, perpétuas. Você acaba de deixar mais uma, e eu sei que cuidarei dela com a mesma freqüência e o mesmo ardor com que cultivo todas as outras, mimando-as como os pequenos bebês rechonchudos que são, e então, algum dia, libertando-as para um mundo no qual não se sabe o que virá pelo amanhecer. Falta. A lembrança costumeira das tuas visitas, que eu um dia ainda aprendo a tecer com a mesma maestria. A estranha depressão que se afunda, imaterial, no meu peito, que se instala como cicatriz na minha carne, e, ainda assim, é invisível.
Fico a pensar se, nas minhas visitas, eu o deixo guarnecido de tantas coisas, tantas impressões, tantos pedaços de mim languidamente entregues à tua posse desinteressada de varão. Fico a imaginar quanto de mim tu ainda usas; quanto de mim tu ainda sentes cravado na tua pele pálida e cheia de ossos, quando a minha própria já não te envolve. Fico a recordar a tua imagem nos pequenos pedaços que tu me deixaste fabricar com a tua essência, no cheiro peculiar que vem cheio de notas tuas, mas com muitas notas minhas também. E então te procuro, e gritas, e dizes que de mim vem toda a tua angústia vulgar, toda a tua irritação acadêmica. E não sabes, caro amado, o quanto isso me fere, o quanto isso ressoa persistentemente nas redondezas pétreas do meu frio, o teu frio, o frio que tu deixaste antes e agora congela, deteriorando o que de belo tivera tempo de nascer.
Mas tu pensas que não te amo, quando escrevo estas linhas amargas, e no entanto não compreendes o quanto há de amor na dor que aqui descansa.
Nossa...
ResponderExcluirsempre que venho aqui me impressiono de tal forma que nem sei, tudo é tão...
é muito bom ler tudo isso aqui!
um grande abraço!
Sim... também sempre me impressiono!
ResponderExcluirNão sei como funciona essa tua habilidade incrível de escrever perfeitamente como se estivesse em outra época....
Mais do que o gótico... eu amo o seu drama, hauhahaahhaas...
Muuuuuito bom..como sempre...parabéns!
Gabi, no século XIX as pessoas não escreviam assim...Era pior :l
ResponderExcluirOlá Maria, tudo bem?
ResponderExcluirLi alguns artigos que você publicou em seu blog e gostei muito. Criei um blog (jusdiverso.blogspot.com) para que seja um espaço para todos aqueles que amam digitar seus artigos, pensamentos, opiniões, poemas, em fim, escrever. Seria uma honra tê-la como parceira. Caso se interesse, me mande um email (getulio.melo@hotmail.com) com seu texto e alguma informação sua para que eu possa citá-lo. É isto, qualquer coisa entre em contato comigo. Sucesso e até mais